VIAGEM DAS IMAGES - VIAGEM IMAGENS -
QUADRINHOS VIAJANTES
As histórias em quadrinhos brasileiras contemporâneas revisitam as ideias de Brasil e suas narrativas históricas, propondo reimaginar o país através do desenho.
André Toral, antropólogo e quadrinista, representa viagens e encontros históricos, como a chegada dos holandeses em Pernambuco. A pintura contextualiza o pano de fundo das histórias ao fazer referências a Taunay.
Luli Penna, em Sem norte (2023), apresenta reflexões sobre uma certa naturalidade de paisagem e o ideal paradisíaco presente nas primeiras narrativas de um Brasil. A personagem viaja pelo interior paulista sendo tomada por visões dos pintores viajantes como Debret e Rougendas, que atraves sam a História.
Marcelo D’Salete explora a História e o imaginário ligados à formação do Brasil e de sua identidade nacional. Suas narrativas percorrem a mata cerrada em busca de traços que expressem as ideias de nação. Seu trabalho revela o diálogo entre viagem, memória e construção do ser brasileiro.
Angola Janga
2017
Marcelo D’Salete
Angola Janga
2017
Marcelo D’Salete
Angola Janga
2017
Luli Penna
Sem Norte (título provisório)
2025 (trabalho em andamento)
Luli Penna
Sem Norte (título provisório)
2025 (trabalho em andamento)
Sem Norte (título provisório)
2025 (trabalho em andamento)
Adeus, chamigo brasileiro
1999
André Toral
Adeus, chamigo brasileiro
1999
O artista repete a cena demonológica para subvertê-la: o demônio europeu, de pele rosada e olhar angelical, é agora o símbolo da catequese e da violência civilizatória. O inferno desloca-se — o demônio é o colonizador.
A ironia e o excesso desestabilizam o tom doutrinário do “Pequeno Catecismo” e das “Missões Salesianas”. Colagens com adesivos de bebidas, anúncios religiosos e etiquetas museológicas inserem camadas críticas: a evangelização, o consumo e a musealização aparecem como faces de uma mesma catequese visual. O museu, antes depositário de corpos e objetos, torna-se o espelho da sua própria prática de domesticação simbólica.
Nas inscrições bilíngues, Baniwa confronta a língua da catequese com a língua do espírito. Em nheengatu, surgem vestígios do ensino missionário — Abá eté (homem verdadeiro), Tupana uputári (Deus desceu), Yasí (lua) —, agora transformados em palavras de insubmissão. Em contraponto, o baniwa devolve o sopro ritual: Buya (espírito), Wassú (vento vital), Dabukuri (festa de abundância).
Entre o nheengatu e o baniwa instala-se uma poética da fricção. O que antes foi traduzido à força é reinscrito como gesto de insurgência. O corpo, antes catequizado, torna-se superfície de resistência. O que De Bry gravou em cobre, Baniwa grava em corpo vivo — o indígena não é mais o possuído, mas aquele que possui a imagem, a palavra e o sopro de um mundo refeito por suas próprias mãos.
Ana Pi, coreógrafa e artista da imagem brasileira baseada na França, nesta proposição visual que faz parte de uma obra instalativa maior, originalmente feita para a exposição “Nossa vida bantu”, realiza os giros reveladores e condensadores das múltiplas temporalidades, num deslocamento entre ancestralidade e futuro promovido pela presença. A ação girada recusa, combate, apresenta-se e oferece outros caminhos não coloniais. Trata-se de um mergulho estético-epistêmico que reivindica o sonho, a viagem, o encanto, a inteligência, os construtos negros, desautorizando as reduções e classificações da colonialidade.
O FEITIÇO DO FIO
O feitiço do fio, instalação de Glicéria Tupinambá, articula memória, corpo e gesto por meio de uma malha têxtil inspirada no manto tupinambá — agente de resistência e poder feminino — e de três fotografias em que a artista se enreda nessa trama. A malha, feita de fios vermelhos, resulta do gesto ancestral do tecer, compreendido como prática que se transmite e se enreda, como feitiço: cada nó costura o tempo e a herança.
Nas fotografias, realizadas em parceria com Danilo Sorrino, Glicéria aparece entrelaçada à malha e aos fios de seus cabelos em processo de transição. Ao transformá-los em cachos, afirma uma identidade múltipla e insurgente. Ao reivindicar essa textura como parte de sua corporeidade indígena, a artista confronta estereótipos coloniais de pureza racial e de fenotipia “autêntica” atribuída aos povos originários. Assim, o cabelo é a incorporação da diferença, em eco à capacidade tupinambá de “absorver a força do outro”, transmutando-a em potência de continuidade.
Entre o corpo, o tecido e a imagem, a obra torna-se um ritual de resistência, em que o feitiço do fio reata os vínculos entre a artista e a linhagem das mulheres tupinambá, guardiãs da memória e da força transformadora que atravessa o tempo.
QUADRINHOS VIAJANTES
As histórias em quadrinhos brasileiras contemporâneas revisitam as ideias de Brasil e suas narrativas históricas, propondo reimaginar o país através do desenho.
André Toral, antropólogo e quadrinista, representa viagens e encontros históricos, como a chegada dos holandeses em Pernambuco. A pintura contextualiza o pano de fundo das histórias ao fazer referências a Taunay.
Luli Penna, em Sem norte (2023), apresenta reflexões sobre uma certa naturalidade de paisagem e o ideal paradisíaco presente nas primeiras narrativas de um Brasil. A personagem viaja pelo interior paulista sendo tomada por visões dos pintores viajantes como Debret e Rougendas, que atraves sam a História.
Marcelo D’Salete explora a História e o imaginário ligados à formação do Brasil e de sua identidade nacional. Suas narrativas percorrem a mata cerrada em busca de traços que expressem as ideias de nação. Seu trabalho revela o diálogo entre viagem, memória e construção do ser brasileiro.
Angola Janga
2017
Angola Janga
2017
Angola Janga
2017
Sem Norte (título provisório)
2025 (trabalho em andamento)
Sem Norte (título provisório)
2025 (trabalho em andamento)
Sem Norte (título provisório)
2025 (trabalho em andamento)
Adeus, chamigo brasileiro
1999
Adeus, chamigo brasileiro
1999
O artista repete a cena demonológica para subvertê-la: o demônio europeu, de pele rosada e olhar angelical, é agora o símbolo da catequese e da violência civilizatória. O inferno desloca-se — o demônio é o colonizador.
A ironia e o excesso desestabilizam o tom doutrinário do “Pequeno Catecismo” e das “Missões Salesianas”. Colagens com adesivos de bebidas, anúncios religiosos e etiquetas museológicas inserem camadas críticas: a evangelização, o consumo e a musealização aparecem como faces de uma mesma catequese visual. O museu, antes depositário de corpos e objetos, torna-se o espelho da sua própria prática de domesticação simbólica.
Nas inscrições bilíngues, Baniwa confronta a língua da catequese com a língua do espírito. Em nheengatu, surgem vestígios do ensino missionário — Abá eté (homem verdadeiro), Tupana uputári (Deus desceu), Yasí (lua) —, agora transformados em palavras de insubmissão. Em contraponto, o baniwa devolve o sopro ritual: Buya (espírito), Wassú (vento vital), Dabukuri (festa de abundância).
Entre o nheengatu e o baniwa instala-se uma poética da fricção. O que antes foi traduzido à força é reinscrito como gesto de insurgência. O corpo, antes catequizado, torna-se superfície de resistência. O que De Bry gravou em cobre, Baniwa grava em corpo vivo — o indígena não é mais o possuído, mas aquele que possui a imagem, a palavra e o sopro de um mundo refeito por suas próprias mãos.
O feitiço do fio, instalação de Glicéria Tupinambá, articula memória, corpo e gesto por meio de uma malha têxtil inspirada no manto tupinambá — agente de resistência e poder feminino — e de três fotografias em que a artista se enreda nessa trama. A malha, feita de fios vermelhos, resulta do gesto ancestral do tecer, compreendido como prática que se transmite e se enreda, como feitiço: cada nó costura o tempo e a herança.
Nas fotografias, realizadas em parceria com Danilo Sorrino, Glicéria aparece entrelaçada à malha e aos fios de seus cabelos em processo de transição. Ao transformá-los em cachos, afirma uma identidade múltipla e insurgente. Ao reivindicar essa textura como parte de sua corporeidade indígena, a artista confronta estereótipos coloniais de pureza racial e de fenotipia “autêntica” atribuída aos povos originários. Assim, o cabelo é a incorporação da diferença, em eco à capacidade tupinambá de “absorver a força do outro”, transmutando-a em potência de continuidade.
Entre o corpo, o tecido e a imagem, a obra torna-se um ritual de resistência, em que o feitiço do fio reata os vínculos entre a artista e a linhagem das mulheres tupinambá, guardiãs da memória e da força transformadora que atravessa o tempo.